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quinta-feira, maio 22, 2014

“Confiança e amizade”



Ao aposentar-se, Osvaldo resolveu que todo dia iria ler seu jornal na praça que ficava próximo de sua residência, onde, além da sombra de uma arvore, ele desfrutaria de paz e tranquilidade. 
No primeiro dia, ele chegou à praça bem cedo e logo viu o banco ideal para sua leitura de jornal, que ficava embaixo de uma frondosa arvore, na lada oposto da praça. Mas, havia um problema que lhe saltou aos olhos. Sob o banco se instalara um cão de porte médio e raça desconhecida, isto é, um vira-lata. Vira-lata ou não, ele parecia ser pouco amistoso, pois qualquer um que se aproximasse dele era atacado com uma fúria avassaladora. 
Osvaldo bem que tentou, mas o cão o atacou e o pôs para correr em direção ao outro lado da praça, o que o fez desistir e ir ler seu jornal em casa. Durante a noite, ficou imaginando como faria para se aproximar do cão sem despertar tamanha fúria e ganhar sua confiança e amizade. No dia seguinte, com o jornal embaixo do braço, Osvaldo chegou à praça e sentou-se em um banco longe daquele onde o cão havia se aninhado. Vez ou outro ele levantava os olhos do jornal e olhava em direção ao cão, que imediatamente levantava a cabeça e com as orelhas em pé o olhava com cara de poucos amigos. O tempo passou e ao terminar de ler seu jornal, Osvaldo levantou-se, dobrou o jornal e sem olhar para o cão retirou-se em direção à rua e ao atravessa-la deu uma última olhada em direção ao cão, vendo-o cheirando o banco onde estivera sentado lendo o jornal. Isto significava que o cão estava se familiarizando com o seu odor e assim conhecendo sua identidade. 
No dia seguinte, no mesmo horário, Osvaldo chegou à praça com seu jornal embaixo do braço e foi sentar-se em um banco um pouco mais a diante, mas ainda assim longe do cão. Osvaldo, sempre prudente, abriu o jornal com o máximo cuidado e com o canto dos olhos verificou a atitude do cão. Viu-o sentado, com as orelhas em pé, mas, aparentemente não estava bravo, apenas curioso. Inesperadamente, o cão levantou-se e andou por aproximadamente um metro, parou, sentou-se e ficou ali, com o olhar fixo em Osvaldo sem mexer um músculo. Terminada a leitura, Osvaldo fechou o jornal e desta vez olhou em direção ao cão que lá estava, sem se mexer, apenas olhando e disse: “Até amanhã, amiguinho”. O cão ameaçou balançar o rabo, mas, ficou por isso mesmo.
No terceiro dia, Osvaldo chegou animado, escolheu um banco mais próximo do cão e sentou-se. O cão, por sua vez, andou cerca de dois metros e meio e se sentou sobre as duas patas traseiras, mantendo as orelhas eretas e os olhos fixos sobre Osvaldo que tirou do bolso da camisa um biscoito para cães e suavemente o jogou em direção ao cão, que continuou olhando para ele, sem se interessar pelo biscoito. Osvaldo voltou-se para o jornal e continuou sua leitura, deixando o cão de lado. Após alguns minutos, ele discretamente levantou o olhar e viu que o cão estava mastigando o biscoito, mas, sem tirar os olhos dele. Terminada a leitura, ele levantou-se. O cão também se levantou, mas, estava sereno e apenas olhava curioso. Osvaldo colocou o jornal embaixo do braço e virando-se para o cão disse: “Até amanhã meu amigo”. Atravessou a praça e ao chegar à rua olhou para trás e viu que o cão estava no mesmo lugar, mas, dessa vez, sua cauda estava balançando. Isto significava um gesto não só de amizade, mas, também de confiança. 
A cada dia, Osvaldo se aproximava um pouco mais do cão, e este, também se aproximava um pouco mais dele. A chegada de Osvaldo já não era silenciosa e ainda que a certa distância, ele era saudado pelo cão através de talvez meia dúzia de latidos e abanos de cauda entusiastas. Assim, nasceu entre eles uma grande amizade cheia de carinho, respeito e extrema confiança. Ninguém chegava até Osvaldo sem passar antes pelo seu cão de guarda, como gostava de dizer Osvaldo a todos que o procuravam para conversar. Foi uma relação de amizade e confiança que durou até o final da vida do Osvaldo muito tempo depois. Quando o Osvaldo morreu, o cão ficava sentado, com as orelhas em pé aguardando a chegada dele até certo horário. Como ele não aparecia, o cão comia a ração fornecida pela população e seguia em direção ao cemitério, então, sentava-se ao lado da campa de Osvaldo e lá permanecia, com sol forte ou intensa chuva até o escurecer, quando então voltava para a praça e aninhando-se sob o banco, dormia até o dia seguinte, quando tudo recomeçava. Até que um dia, o cão não mais acordou, tinha ido de encontro ao seu amado dono e provavelmente deva estar sentado ao lado de Osvaldo, protegendo-o, enquanto ele lê seu jornal em alguma praça no céu. 
Assim deveria ser a relação dos seres humanos, começando com cautela, respeito e conquistando passo a passo a confiança e por fim a amizade sincera e duradoura. A amizade que brilharia pelo resto de nossas vidas ou talvez, até o final dos tempos.
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