Reencarnação
É sexta-feira à noite e para fugir do transito intenso que pára a cidade, quatro amigos: Paulo, Sergio, Ana e Gustavo, se reúnem no barzinho do centro. E entre um gole e outro de cerveja, conversam sobre vários assuntos, até que a conversa descamba para o lado religioso e Paulo –o falador- questiona a existência ou não da alma:
-Às vezes, não tenho não tenho certeza se a alma existe e me questiono se no caso dela existir o que acontece quando morremos. E vocês o que acham?
- Bom, eu não entendo muito dessas coisas. E você Ana? Disse Sergio.
- Eu acredito que a alma exista sim. Só não sei explicar como ela é ou o que acontece depois da morte. Agora o Gustavo é entendido nestas coisas de religião e talvez possa explicar, não é Gustavo?
Gustavo permaneceu em silêncio durante vários minutos. Sua mente divagava em busca da melhor maneira de explicar aos amigos a essência da alma.
- Então Gugu a alma existe ou você também não acredita em sua existência? Inquiriu Paulo.
- Na verdade, quando era jovem também tinha dúvidas e me questionava se a alma existia ou não. Tudo mudou quando certo dia, ainda muito jovem, meu pai levou-me para conhecer um velho monge que a muito tempo era seu amigo. Lá chegando, após tomarmos chá, enquanto meu pai foi visitar outro velho amigo que morava nas proximidades, aproveitei a oportunidade para questionar o sábio ancião- “O senhor acredita mesmo que nossa alma pode reencarnar?”. Um grande silêncio se seguiu e então o monge levantando-se com certa dificuldade saiu pela porta da cozinha. Quando pensei que não o veria mais, ele voltou com um jarro de água, um pano de chão e um balde de plástico bem pequeno. Estava imaginando se ele iria querer que eu limpa-se alguma coisa quando, colocando o balde e o pedaço de pano encima da mesa, o monge surpreendentemente atirou a jarra ao chão transformando-a em um amontoado de cacos de vidro e água espalhada. Foi quando recolhendo os cacos de vidro com uma pá, disse:”Isto era uma jarra, agora são apenas cacos de vidro” E apontando para a água no chão deixou claro que a água continuava sendo água. Indo até a mesa, pegou o pano e o balde e agachou-se enxugando a água do piso e mostrando-me o pano para que eu visse que a água estava nele. Em seguida, espremeu a água do pano no balde, rasgou o pano e o atirou junto aos cacos de vidro dizendo: “-Aquilo era um pano, agora não passa de um amontoado de trapo velho’. Quando viu que eu havia compreendido o que dissera, entornou o conteúdo do balde na pia, quebrando-o em seguida e jogando o que sobrou junto aos cacos de vidro e restos de pano dizendo:”- Aquilo era um balde, agora não passa de pedaços de plástico”. – Em seguida, sentou-se à minha frente e pediu que lhe explicasse o que acabara de presenciar da melhor forma possível.
- Bem, pelo que entendi, a água em questão representa a alma e os objetos representam meios para transportá-la, isto é, corpos.
- Puxa! Minha cabeça ta dando nó. Disse Ana a Gustavo.
- Calma Ana eu ainda não terminei, na verdade, perguntei ao velho monge se como a água, nossa alma também iria para o esgoto. Ele riu gostosamente da minha ingênua pergunta e disse com toda calma: - A água que vai para o esgoto percorre um longo caminho até um local onde é reciclada e em seguida volta aos canos e possivelmente à torneira onde é utilizada de várias formas. Portando, é fácil presumir que após várias reencarnações, a alma vá para um local no Etéreo onde é purificada, retornando ao mundo onde deverá cumprir alguma nova missão que lhe foi designada se assim se fizer necessário. Dessa forma, houve na História da Humanidade grandes nomes que de uma forma ou outra mudaram o mundo.
-Mas..... E quanto ao inferno e a danação eterna que tanto apregoa algumas religiões? O que você me diz a respeito disso, Gustavo? Perguntou Sergio.
-Balela! Não há inferno nem danação. Tudo não passa de tradução errônea das escritas antigas e adaptações que favorecessem lideres religiosos em sua ganância pelo poder. Algumas coisas foram escritas para assustar lavradores ignorantes sem
nenhum poder de percepção, que passaram a acreditar num Deus carrancudo, irado
e sem piedade, que atira seres por ele criado no fogo eterno. Seria mais ou menos
como se você lança-se seu filho amado a uma fogueira pelo fato dele ter cometido
algum ato desprezível como roubo ou uso de drogas.
-É verdade. Mas e quanto aos espíritos que vagam por cemitérios e velhas casas
assustando as pessoas, o que você me diz? Perguntou com firmeza Paulo.
Gustavo sorriu e durante alguns minutos ficou pensando na melhor maneira de
explicar ao amigo sobre magma plasmático e a alma propriamente dita. Por fim disse:
-Essas assombrações nada têm a ver com entidades correntes. Na verdade, somos seres eletromagnéticos e quando uma pessoa morre em circunstâncias trágicas, muita energia é gerada e ainda que a pessoa siga para o plano astral, a energia gerada nessas circunstâncias leva muito tempo para ser dissipada formando-se espectros chamados por nós de assombrações. Use como exemplo um pedaço de ferro aquecido até que se
torne brasa, mesmo após horas que você o retirou da fonte de calor, notará que ainda
não esfriou. Se você quiser esfriá-lo mais rapidamente e nele jogar um copo de água,
notará que uma nuvem de vapor deixará o objeto em questão tal qual a forma de um
fantasma.
-Mas ficar nascendo e morrendo não é fácil, a dor desses dois atos que faz parte da
existência de todos os seres vivos é muito grande. Na verdade precisa ser idiota para
querer voltar a viver neste mundo. Você não acha Gugu? Perguntou Ana
-Bom, são duas questões bem diferentes: “Primeiro, o que ocorre durante a morte?
Segundo, porque voltamos depois de todo o sofrimento?”Quanto à primeira, não há motivo para se temer a morte, pois a morte em si, é indolor, trazendo a aquele que
está partindo um sentimento de paz interior. A pessoa em questão sabe que está indo para casa, o verdadeiro lar, deixando para trás esse mundo de ilusões, onde vivemos apenas para cumprir alguma tarefa que nos permitirá evoluir espiritualmente. Já a segunda, com exceção dos suicidas que são obrigados a retornarem a Terra e cumprir o que restava de seu tempo, nas mesmas condições em que se encontravam, os demais seres espirituais podem escolher como e onde irão voltar (se assim o quiserem) para darem seqüência a sua evolução espiritual.
-Opa! Olha ai pessoal, já é muito tarde é melhor a gente levantar acampamento e ir para casa, pois amanhã temos que fazer o trabalho da Facu. Disse Paulo já levantando da mesa.
Apressados, cada um seguiu com destino a sua residência, levando consigo (com exceção de Gustavo) mais perguntas do que respostas com relação à existência ou não de uma alma imortal. Da próxima vez, pegariam o Gugu de jeito e com certeza ele ficaria sem respostas.
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