“O gato e o rato”
maioria dos políticos, que não passam de atores no palco político nacional. Entre várias
perguntas que muitas vezes não têm resposta, Karol, uma garota franzina e inteligente, não se faz de rogada e solta o verbo:
-Puts! Não agüento mais ver tantas CPIs que não resolvem absolutamente nada e ainda por cima custam caro aos cofres públicos, aliás, nosso suado dinheirinho.
-É.... Tem razão Karol,mas o que há de se fazer? Entretanto, faz-se necessário apurar os fatos, ainda que tudo termine em pizza. Completou Felipe.
-Ta legal, mas já que vão torrar nosso dinheiro deviam punir severidade todos os indivíduos mau caráter que usam o cargo em beneficio próprio. Arrematou Márcia.
-Calma gente!... É verdade que eles lá estão para trabalhar em beneficio do povo e a maioria não o fazem, mas é verdade também, que o país é muito grande e a dificuldade para administrá-lo são descomunais. Enfatizou o moderado Fernando.
-Não,não, não. Isso não justifica, pois apesar de enorme, o país é dividido em vários
Estados e cada um possuem um governador, assim como cada cidade seu prefeito com um grande número de auxiliares. Bradou Karol.
-É, mas não se esqueça que somos vassalos do governo Federal e ao contrário dos
Americanos (EE. UU) nossos estados não são autônomos e os governadores estão nas
mãos do governo Federal. Disse Márcia, com convicção.
E assim, prosseguiram durante algum tempo, alternando perguntas e respostas com
grande entusiasmo. Bem, quase todos, pois no canto esquerdo, ao lado da amiga Karol
estava Gustavo, calado e observando o bate boca dos amigos. Não era de interromper
qualquer debate, ficava calado e sempre aguardava que o inquirisse para expor o que achava dos fatos.
-E você Gustavo, qual é a sua opinião? O que acha dos políticos? Pergunto Márcia.
Gustavo não era de responder às perguntas com emoção como seus amigos o faziam,
preferia antes de tudo raciocinar a respeito dos fatos e estudar a melhor maneira de dar
uma resposta mais próxima da realidade.Pensou durante alguns segundos e disse:
-Políticos e contribuintes me lembram da história do gato gordo e do rato faminto.
-Como assim, o que tem a ver? Perguntaram juntos Karol e Felipe.
-Bom, nossa história acontece numa casa muito antiga, onde morava uma velhinha que tinha como único passatempo tricotar e alimentar seu gordo gato de estimação. A
falta de manutenção durante anos, havia provocado rachaduras na parede. Junto ao piso
da sala e o rodapé, próximo a uma pequena poltrona que ficava do lado esquerdo da
da janela,havia um pequeno buraco.Era ali,que vivia um deplorável inquilino que além
de não pagar aluguel, era de fato indesejável já que pertencia a detestável raça dos roedores. Esse pequeno rato, como todos os seres viventes, necessitava alimentar-se e sua única fonte de alimento ficava na dispensa junto à cozinha. Para chegar até ela, o rato tinha que além de atravessar a sala, seguir por um estreito corredor, atravessar toda a extensão da pequena cozinha, passar por uma pequena porta e...Ulula. Ali, numa
pequena lixeira, certamente encontraria algo para comer. Mas, havia um problema de
ordem tática, teria que ser rápido e cauteloso, pois certamente o gato da velhinha estaria
de tocaia em algum ponto do trajeto e um pequeno descuido lhe custaria a vida.
Um dia, a fome do roedor chegou a tal ponto que restou--lhe como única alternativa
arriscar-se e empreender a jornada até a dispensa da cozinha. Timidamente, colocou sua pequena cabeça para fora do buraco e com os olhos atentos vasculhou todo o ambiente da sala e.... Nada! Seu pequeno cérebro analisou a situação e chegou à conclusão que o gordão peludo deveria estar fora, junto com a velhinha. Sendo assim, colocou o corpo com toda cautela para fora da toca e reviu com cuidado alguns detalhes do trajeto que o levaria ate a dispensa na cozinha. Uma pequena corrida e se acomodou sob a estante da sala, dali empreendeu nova corrida e alojou-se sob o pequeno sofá ao lado da porta que dava acesso ao corredor. Observou por uns segundos o ambiente e lançou-se célere em direção a cozinha através do corredor. Derrepente, quando estava a meio caminho de atingir seu objetivo, algo o atingiu com uma poderosa força lançando-o contra a parede e antes que pudesse se recuperar levou outra pancada que o lançou para o lado oposto.
Atordoado, via apenas patas peludas que o jogavam de um lado a outro como se fosse uma pequena bola. Sabia que sua vida estava por um fio e resolveu fazer-se de morto, na esperança de sobreviver ao ataque do gato insensível, que continuou a brincar com
o corpo do pequeno roedor durante alguns minutos, quando se cansou e dando-lhe uma potente patada atirou-o a um canto da parede. Em seguida, saltou sobre o parapeito da janela que se encontrava aberta e seguiu seu destino em busca de outro atrativo, desde que não fosse o cachorro da vizinha.
O pequeno roedor todo machucado, aguardou por alguns minutos e arrastando-se com muita dificuldade voltou para sua toca, onde poderia recuperar-se de sua quase fatal tragédia. Ali, com o pequenino coração disparado, o corpo todo machucado e terrivelmente dolorido, ele acomodou-se num canto e adormeceu, dando-se por feliz
em razão de ter sobrevivido ao ataque do felino.
- Interessante, mas o que essa história tem a ver com política? Perguntou a Karol.
-Eu acho Karol que o gato da história simboliza o político e o poder constituído já
o rato simboliza o povo. Respondeu Fernando, tentando explicar a historia à Karol.
-Então, é esse mesmo o significado da história? Perguntou Felipe ao Gustavo, um pouco curioso com a comparação feita por Fernando.
-Exatamente. O político e sua gorda conta bancária cabem perfeitamente no papel do personagem simbolizado pelo gordo gato da velhinha. O povo esta simbolizado pelo rato da história, não passando de um brinquedo nas mãos de alguns (nem todos o são) políticos mau caráter, que não se constrangem em brincar (de forma perigosa) com a saúde e o destino da população. Quando cansam da brincadeira de gato e rato com o povo, eles, já empanturrados com o dinheiro dos cofres públicos saem de cena e vão à busca de novos objetivos. O povo, deixado à mercê da propia sorte (tal qual o rato) tenta minimizar o sofrimento enchendo-se de esperança e dando-se por feliz por cada dia em que mesmo com dificuldade consegue sobreviver. Respondeu Gustavo.
-Então, nesse caso nossa única esperança é um dia soltarmos os cachorros encima deles!Exclamou a até então quieta Márcia.
A risada foi geral.
Pediram a conta, despediram-se e foram embora, cada um para sua casa, imaginando se no futuro, alguém bancará o cachorro da vizinha e colocará os políticos (gatos) em seu devido lugar.