“Papo de bêbado”
Notívago por natureza passei grande parte da minha vida profissional trabalhando no horário noturno em dois grandes jornais de São Paulo. Era comum, ao término da jornada de trabalho, encontrarmo-nos No bar e restaurante aberto 24hs. Que ficava –e ainda existe- na Rua Major Quedinho, para uma refeição, um lanche ou simplesmente tomar uma cerveja bem gelada, acompanhada de salgadinhos.
Numa dessas vezes, sentei-me ao lado de um colega de trabalho, que era famoso por falar demais, comer pouco e beber em excesso. Então, uma hora e várias cervejas depois ele virou-se para mim e disse com uma voz de quem está com a boca cheia de algodão.
-Você já ouviu a história da mulher que xubia no telhado e uivava para a Lua?
-Não, mas parece se interessante – Respondi.
-Bom, de fato é.
-Então conta pô!
-Bem... ela coxtumava...xubir...no...
Passaram-se alguns segundos e nada dele falar. Ele ficava olhando para a ponta do balcão e balançando a cabeça de forma negativa.
-O que foi, vai contar a história ou não?
-É que eu txô vendo aquelas gêmeas no final do balcão. O exxtranho é que quando fexxo um olho,uma delas se esconde atráx do balcão, txa vendo?
-Que gêmeas, já tá chapado? Lá tem só uma garota.
-Ah, será que eu txô bêbado?
-Deixa prá lá, me conta a história da mulher que uivava no telhado.
-Mulher que uivava no telhado? Xê tá doidão!?
-eu que tõ doidão, cara!? É você que tá vendo em dobro, além disso, quem começou a história da mulher que subia no telhado e uivava pra lua foi você.
-Hic!...Hic!... calma, não precisa gritar, eu conto a hixtória da mulher que voava pra lua.
-Que voava? Tá louco? Você disse que a mulher uivava pra lua.
-Mulher xe uivava pra lua? Sei disso não...voxê...precixa...parar de beber.
-Pô, já disse que não bebo. Quer contar logo essa merda de história. Agora fiquei curioso.
-Calma, cuidado com o palavrão, eu...Hic!...Hic!...Vou contar a historia da mulher que dançava pra lua.
-Que cantava, cara.Pô! Você tá muito bêbado.
-Eu, bêbado? Voxê que vem com essa hixtoria da...Hic!...Hic!...mulher que dançava pra lua.
-Quer saber? Vá pro inferno você a mulher que uivava pra lua.
-txa vendo? Voxê txa tão doidão que nem vê as gêmeas, fica falando da mulher que cagava pra lua.
A esta altura, perdi a paciência e pagando a conta fui embora. Até hoje, não sei por que a mulher uivava pra lua. Já que no dia seguinte ele nem lembrava que esteve no bar.
-Bar, que bar? Sei disso não... Acho que nem passei perto do bar ontem.
Aprendi uma lição: ”Nunca, jamais, devemos dar ouvido a conversa de bêbado”.
JC Leggiero 22/09/2013