Senzala
O manto negro da escuridão,
Desce sorrateiro sobre a casa de pedra,
Tornando mais gélida a noite de inverno.
Nos pequenos cômodos da casa sem porta,
Onde apenas os batentes dão passagem,
A bruma gelada que já se apossa do ambiente,
Congelando drasticamente o ar abafado,
Tornando difícil a noite para seus ocupantes.
Na casa não há móveis ou utensílios,
Apenas mantas sujas, mal cheirosas e esfarrapadas,
Estiradas sobre o chão fétido de terra batida,
Onde jazem estirados corpos supostamente humanos.
Corpos negros, despidos e maltratados pela vida,
Marcados por velhas cicatrizes mal curadas,
Chagas recentemente abertas e ali deixadas,
Pelo chicote inclemente do carrasco cruel,
Como símbolo eterno da maldade humana.
São corpos doloridos e profundamente marcados,
Pela chibata que os açoita sem piedade,
Que corta a carne e fere profundamente a alma,
Negando de forma absurda e humilhante,
A mínima condição de um ser humano,
E em que pese à brutalidade e estupidez,
De nossos ancestrais em sua ignorância,
Não podemos e não devemos nos eximir,
Da culpa que cabe a todos nós.
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