"O barco"
A tarde acinzentada era um prenuncio da noite tempestuosa
que se aproximava, e o velho e calejado marinheiro sabia,tal
qual um velho sabujo, que aquilo cheirava mal.Pois,seus anos
de experiência e intimidade com o mar, habilitava-o como
capitão e líder do pequeno barco pesqueiro.
Quando a noite chegou,assim como previra o velho marujo,
trouxe consigo a chuva, o vento e enormes ondas que como
um martelo se abatiam sobre o enferrujado pesqueiro, que
como rolha na enxurrada era atirado de um lado a outro sem
que nada se pudesse fazer para impedir.Na verdade, todos
a bordo sabiam que destino do barco e de seus tripulantes
estavam a mercê do mar bravio.
Na ponte de comando , a apreensão está estampada no
Semblante do velho capitão e seu imediato, ambos homens
calejados e embrutecidos pelo mar.Suas ordens de comando
são gritadas através do interfone que desce até a sala das
maquinas,onde sob um forte barulho e uma luz muito fraca,
sombras se deslocam freneticamente,cumprindo sem exitar
as ordens do comandante.
A sala das máquinas é um ambiente hostil,extremamente
quente e com pouca ventilação tornando o ar irrespirável a
medida em que aumenta o frenesi dos homens trabalhando.
Entretanto,separar aqueles homens do velho motor a Diesel
é quase impossível já que a ligação deles com o velho motor
semelhante a uma grande paixão. São marinheiros que
embrutecidos pelo mar durante anos,esqueceram-se de como
é o sentimento de medo e confiam plenamente no seu líder e
no pequeno e enferrujado barco que atravessou centenas
de vendavais em todos os mares do mundo.
Na sala de comando,lutando freneticamente com o leme o
capitão podia ouvir de tempo em tempo o som da hélice que
girava no vazio quando o pequeno barco se equilibrava sobre
a crista da enorme onda que galgara.Em seguida,uma rápida
descida e novamente uma forçada subida e lá estava ele em
perfeito equilíbrio sobre a crista de uma nova onda, o que dava
a sensação de estar deslizando sobre um grande tobogã.
Às vezes,alguma onda "quebrava "sobre o pequeno convés
com um impacto tão grande que parecia a pancada de uma
marreta.Nessas ocasiões, tinha-se a impressão que a proa
afundara sob o peso da água e a popa subia em direção ao
céu escuro, jogando como bonecos de pano de um lado a
outro os homens que ali estavam juntamente com tudo que não
estivesse amarrado. Apesar da fúria de Netuno(deus do mar),
o pequeno barco seguiu firme noite a dentro,hora dominando,
ora dominado, atravessando a tempestade e o mar bravio,
levando à bordo àqueles homens de fibra e de uma coragem
sem precedentes.
Ao amanhecer,quando passou a tempestade,uma ordem
do capitão e o pequeno barco deu uma guinada à bombordo
apontou a proa em direção ao porto de seu destino,onde lá
chegando ficaria em segurança até a próxima viagem.
Tal qual o pequeno barco e seus marinheiros, assim é a
vida de todos nós.Às vezes,passamos por períodos extremos
sob fortes tempestades profissionais ou pessoais, ficando,
todos nós a mercê do deus do destino.Somos açoitados por
uma infinidade de fatores negativos,que nos levam para baixo
tornando-nos negativistas e depressivos.Cabe a nós,de uma
forma ou outra,levantar a cabeça e agirmos da mesma forma
que o velho capitão, seus bravos marinheiros e o velho e
e enferrujado barco,nos tornando gladiadores da vida assim
como dominadores de tempestades.